terça-feira, 25 de maio de 2010

VIOLENCIA NAS ESCOLAS

A VIOLENCIA NAS ESCOLAS

O problema se alastra pelo mundo como rastilho de pólvora, mas, no Brasil, embora o governo admita sua existência, ele não é prioritário dentro das políticas educacionais. Iniciativas para combatê-lo geralmente partem de entidades como Unesco, pesquisadores e secretarias de educação.
A + A - Tamanho do texto:Por Magno de Aguiar Maranhão
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ImprimirO problema se alastra pelo mundo como rastilho de pólvora, mas, no Brasil, embora o governo admita sua existência, ele não é prioritário dentro das políticas educacionais. Iniciativas para combatê-lo geralmente partem de entidades como Unesco, pesquisadores e secretarias de educação. O MEC as apóia, mas elas contemplam um número reduzido entre mais de 200 mil estabelecimentos e não há diretrizes para um combate efetivo à violência escolar. As discussões são estéreis e as soluções apontadas abarcam desde munir escolas com modernos aparatos de segurança, até a implementação de projetos que visam à oferta de atividades culturais e esportivas para os alunos, passando pelo treinamento de professores em mediação de conflitos. Todas têm seu lado positivo e devem ser tentadas em conjunto, desde que não se caia em exageros: nem podemos transformar escolas em fortalezas, onde olhos eletrônicos vigiam qualquer movimento, e (no outro extremo) tampouco podemos nutrir a ilusão de que um jogo de bola nos fins de semana demoverá jovens infratores do hábito de portar armas e drogas e ameaçar a integridade física e mental de professores e colegas.
Inadmissível é adiar providências enquanto se buscam as causas da violência escolar e nos perdemos em um labirinto de "achismos". De um lado, muitos crêem que as escolas são autoritárias, sufocam os alunos e favorecem sua agressividade. Outros acham que falta mais disciplina. De que lado você está?
Obviamente, há dois problemas em um. O primeiro, segundo especialistas norte-americanos, que têm como marco a tragédia de Columbine, é o fato das escolas não estarem preparadas para detectar alunos com problemas emocionais graves. O Centro Nacional de Segurança nas Escolas (National School Safety Center - NSSC) elaborou até uma lista de características dos "alunos-problema" que beiram a patologia para que sejam identificados antes de causarem uma desgraça. Esses casos bárbaros, no entanto, desvelam o segundo problema: um cotidiano de violências em vários graus, com a qual os alunos compactuam ou da qual temem falar.
A Unesco alerta que nas escolas impera a lei do silêncio e não há confiança entre professores, alunos e pais . O instituto de prevenção de violência na escola dos EUA entrevistou alunos e pais e constatou que 2/3 dos alunos participam de grupos que intimidam colegas; só 1/3 acha que a escola penaliza os intimidadores; entre as vítimas, apenas 16% pediriam ajuda a um professor e, entre recorrer aos pais ou a um amigo, 78% escolheriam o amigo. Na Alemanha, pesquisa entre jovens das 7ª e 8ª séries apontava que 60% já tinham batido em colegas nos últimos seis meses; 5% os intimidam regularmente e 8% os ameaçaram com facas e pistolas.
Na França, 23,9% dos alunos já foram agredidos; 72,4% sofreram insultos e 45,1% foram roubados. Mas esses percentuais não "batem" com dados oficiais, como frisou o representante do país em palestra sobre violência escolar na reunião da SBPC de 2004, em Cuiabá. Denúncias não são levadas à polícia: lá como cá, os alunos não crêem que ela vá protegê-los de represálias.
E que ações distintos países vêm promovendo para amenizar o fenômeno que fez do magistério profissão de risco e dividiu alunos em opressores e vítimas? Nos EUA, os estabelecimentos se equipam, contratam seguranças e dois mil deles estão recompensando alunos que informam, via "disque-denúncia", atividades suspeitas. Na Inglaterra, crianças de dez anos respondem por seus crimes e podem ser expulsas da rede escolar. A Argentina desenvolve um trabalho pioneiro na América Latina, treinando professores para mediar conflitos. No México, implantou-se o programa Contra la violencia, eduquemos para la paz. Por ti, por mí y por todo el mundo . A Unesco propõs o Programa Abrindo Espaços: Educação e Cultura para a Paz, nascido da observação de experiências nos Estados Unidos, França, Espanha e países onde o trabalho com jovens nas dimensões artísticas, culturais e esportivas funcionou como prevenção à violência.
No Brasil, além do reforço de policiamento no entorno, as escolas também devem perder o escrúpulo de adotar medidas de segurança. Além disso, deve ser efetiva a integração famílias/escola, para que esta seja gerida de modo democrático e ofereça aos alunos oportunidades de expressarem seus talentos, não sua crueldade.

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